A compra de vacinas contra a dengue pelo governo do Paraná está mais uma vez sendo questionada por autoridades sanitárias. Dessa vez, foi o ex-diretor do Instituto Butantã, Isaías, Raw, quem veio a público dizer que acha estranha a compra feita pelo governo.
O Paraná comprou 500 mil doses da vacina da Sanofi em 2016, e deu início a uma campanha em cerca de 30 municípios. No entanto, descobriu-se que além de dúvidas sobre a eficácia quanto aos quatro tipos da doença, a vacina poderia trazer problemas para quem jamais teve dengue.
"A Sanofi embarcou na vacina errada. Primeiro porque não protege contra os quatro tipos e agora chegou-se a conclusão de que a vacina é um perigo para quem nunca teve dengue", disse Raw em entrevista publicada neste fim de semana pela Folha de S.Paulo.
"Curiosamente, houve apenas um comprador para a vacina, o Estado do Paraná. O que ele vai fazer com essa vacina agora? Qual é a relação do governador do Estado do Paraná e o ministro da Saúde? O ministro é um político, ele não entende de saúde pública ou de vacinas", disse o pesquisador.
As primeiras reuniões entre governo e Sanofi para fechar a compra foram feitas em abril de 2016, um mês antes da nomeação de Ricardo Barros, marido da vice-governadora Cida Borghetti, para o Ministério da Saúde. A compra foi realizada só mais tarde, depois da liberação pela Anvisa.
Já em 2016, a aplicação da vacina foi questionada. A recomendação da Organização Mundial da Saúde era de que só fossem imunizadas populações com 50% de casos de dengue ou mais. O Paraná começou a campanha sem comprovar publicamente que qualquer dos municípios escolhidos para a campanha tinha essa taxa.
Além disso, em dois municípios, Assaí e Paranaguá, a vacina era dada para crianças a partir de nove anos. Em entrevista ao Uol, na época, Marcelo Burattini, professor de infectologia e medicina tropical da USP, disse que o Paraná não tinha nenhum município com 50% de casos.
Na primeira fase da campanha, a Secretaria de Saúde negou problemas. "A Secretaria de Estado da Saúde monitora os vacinados nos 30 municípios que receberam a campanha e não registrou nenhuma reação adversa grave. Somente foram notificadas reações locais leves", disse em nota.
O governo do estado gastou R$ 50 milhões com as vacinas aplicadas em 2016. O custo chegaria R$ 90 milhões com a próxima fase da campanha, prevista para março deste ano.
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O governador Beto Richa lançou nesta terça-feira (26) a campanha de vacinação contra a dengue no Paraná e anunciou que 500 mil pessoas serão imunizadas nos 30 municípios com maior circulação viral da doença. A vacinação começa dia 13 de agosto. O Paraná é o primeiro das Américas a fazer uma campanha pública contra a dengue. O Governo do Estado investirá R$ 50 milhões na aquisição da vacina.
Na solenidade, realizada em Paranaguá, com a presença do ministro da Saúde, Ricardo Barros, o governador assinou protocolo com a empresa francesa fabricante da vacina, a Sanofi Pasteur, para a aquisição das 500 mil doses. Já no lançamento da campanha, dez pessoas foram vacinadas.
A meta é vacinar pelo menos 80% do público alvo. No Dia D da campanha, em 13 de agosto (sábado), os postos de saúde ficarão abertos durante todo o dia. A campanha segue por três semanas, até 31 de agosto, nas Unidades Básicas de Saúde dos municípios contemplados.
“Lançamos a primeira campanha pública de vacinação contra a dengue das Américas, graças ao esforço da nossa Secretaria da Saúde, que tem demonstrado muita competência e qualificação em suas ações. Além da vacina, lançamos também testes multiplex para diagnóstico da dengue, zika e chikungunya”, disse o governador.
A previsão é que a vacina seja aplicada em três doses, com um intervalo de seis meses entre cada aplicação. Além desta primeira etapa, em agosto, haverá ainda novas campanhas em fevereiro de 2017 e agosto de 2017. Segundo o governador, a vacinação deste ano terá impacto efetivo no próximo verão, visto que a primeira dose já concede proteção à doença, evitando assim novas epidemias.
“Temos ações concretas que vão ao encontro do interesse da nossa população. Investimos aqui R$ 50 milhões para aquisição dessas doses, mas é importante destacar os prejuízos diretos e indiretos gerados pela dengue. Foram mais de R$ 330 milhões de prejuízo com a epidemia, com mobilização do Estado para atender as famílias atingidas, pessoas hospitalizadas e compra de equipamentos, além do impacto indireto na economia afastando turistas e pessoas que deixaram de trabalhar. Não é gasto, é um investimento que fazemos na saúde pública para proteger nossa população”, afirmou Richa.
O governador destacou que o Paraná tem capacidade técnica e infraestrutura adequada para incorporar uma vacina nova no sistema público. "Somos um dos melhores sistemas públicos de saúde do País e nossas campanhas de vacinação alcançam as melhores coberturas. Tudo isso nos credencia a inovar para avançar no controle da doença no Estado".
DIFERENCIADA – O ministro Ricardo Barros enalteceu a decisão do Governo do Paraná. “O Governo do Paraná inicia a vacinação, com seus próprios recursos, o que certamente protegerá a população do Estado de forma diferenciada”, afirmou Barros. Ele explicou que, por enquanto, não há previsão orçamentária e nem autorização da Comissão Nacional de Incorporação de Novas Tecnologias para o SUS (Conitec) para incorporação da vacina pelo Ministério da Saúde. “Combater o mosquito Aedes aegyptié prioridade do Ministério. A população que não descanse no combate ao mosquito, que transmite outras doenças, além da dengue”, afirmou ele.
AUMENTOU TRÊS VEZES – A decisão de vacinar a população é uma estratégia a mais para controlar a dengue no Paraná e não substitui os cuidados necessários para o combate ao mosquito Aedes aegypti. O repasse de recursos do Governo do Estado para o controle do mosquito transmissor da dengue já atingiu mais de R$ 120 milhões, sem, no entanto, evitar novas epidemias da doença.
A incidência de dengue no Paraná aumentou três vezes de 2013 a 2015. Em relação ao último período epidemiológico (agosto de 2015 a julho de 2016), o número de casos de dengue cresceu 55%. Mais de 80% da população do Estado, cerca de 9 milhões de pessoas, vive em áreas com circulação viral.
"Com a incorporação da vacina em municípios epidêmicos, será possível diminuir a circulação viral de dengue no Estado, protegendo indiretamente também as pessoas não imunizadas", explica o secretário de Estado da Saúde em exercício, Sezifredo Paz.
O vice-presidente da Sanofi Pasteur, Guillaume Leroy, garantiu que a vacina é segura e eficaz. "Tivemos 20 anos de pesquisa com um conjunto robusto de estudos que mostram que a vacina Dengvaxia proporciona proteção de 93% contra a dengue grave e reduz em 80% as internações pela doença. É uma ferramenta testada e com efetividade comprovada", relatou.
Ele explicou que para o desenvolvimento da vacina e comprovação de sua segurança e eficácia, a empresa trabalhou com 40 mil pacientes, em dez países, incluindo o Brasil. “A Sanofi tem visão de interesse público para essa vacina. Implantamos uma planta de produção nova na França. Hoje temos vários milhões de doses disponíveis”, informou.
TECPAR - O Paraná também vai ampliar sua participação na disponibilização da vacina ao País por meio do Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar). As primeiras 500 mil doses estão sendo adquiridas pela Secretaria de Estado da Saúde em compra direta com a empresa. As novas etapas da campanha (2ª e 3ª doses) serão importadas através do Tecpar, numa parceria estabelecida para a disponibilização da vacina contra a dengue no País. "A parceria com o laboratório francês Sanofi Pasteur é fruto de uma cooperação mais ampla, que envolve outras tecnologias de interesse do país, do instituto e do laboratório", diz o presidente do Tecpar, Julio Félix.
PRESENÇAS - Participaram da solenidade a vice-governadora Cida Borghetti; os secretários da Infraestrutura e Logística, José Richa Filho; da Justiça, Trabalho e Direitos Humanos, Artagão Júnior; do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Antônio Carlos Bonetti; da Comunicação Social, Márcio Villela; e do Planejamento, Cyllêneo Pessoa; o chefe da Casa Militar, coronel Adilson Castilho Casitas; o cônsul geral da França em São Paulo, Damien Loras; o presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Ademar Traiano; e o deputado estadual Mauro Moraes.
BOX 1Secretaria da Saúde prepara a estratégia da campanha
Depois do lançamento da campanha de vacinação contra a dengue nesta terça-feira (26), com a assinatura do protocolo de intenções para aquisição das 500 mil doses da vacina da dengue, a Secretaria da Saúde prepara a campanha nos 30 municípios priorizados.
“No dia 6 de agosto vamos reunir os profissionais de saúde envolvidos com a imunização dos 30 municípios contemplados para uma ampla capacitação sobre a vacina e sobre a estratégia da campanha”, explica a superintendente de Vigilância em Saúde, Cleide Oliveira.
A escolha dos municípios foi baseada na epidemiologia da doença no Paraná, considerando os municípios com três epidemias ou mais nos últimos cinco períodos, entre 2010 e 2015; incidência atual com corte acima de 500 casos/100.000 habitantes; número de hospitalização por dengue grave; número de hospitalização por dengue e distribuição etária dos casos de dengue no período atual (agosto de 2015 a julho de 2016).
Após estudos técnicos feitos pela Secretaria da Saúde, foi definido que em 28 dos municípios paranaenses priorizados para a campanha, a população a ser vacinada abrange a faixa etária entre 15 e 27 anos. Essa faixa concentra cerca de 30% dos casos de dengue no Paraná.
Nos municípios de Paranaguá (Litoral) e Assaí (Norte) a vacina será para a faixa etária entre nove e 44 anos completos porque ambas as cidades têm incidência superior a 8 mil casos por 100 mil habitantes. Em Paranaguá, o número de pessoas que têm direito à vacina chega a 90 mil pessoas.
A meta é vacinar pelo menos 80% do público alvo. O Dia D da campanha será realizado no sábado, 13 de agosto, com postos de saúde abertos durante todo o dia. A campanha segue por três semanas, de 13 a 31 de agosto, nas Unidades Básicas de Saúde dos municípios contemplados.
MUNICÍPIOS CONTEMPLADOS, POR REGIONAL DE SAÚDE (RS):
Paranaguá;
Foz do Iguaçu;
Santa Terezinha de Itaipu;
São Miguel do Iguaçu;
Boa Vista da Aparecida;
Tapira;
Santa Izabel do Ivaí;
Cruzeiro do Sul;
Santa Fé;
Munhoz de Melo;
Marialva;
Paiçandu;
São Jorge do Ivaí;
Maringá;
Mandaguari;
Sarandi;
Iguaraçu;
Assaí;
Ibiporã;
Jataizinho;
Porecatu;
Bela Vista do Paraíso;
Cambé;
Londrina;
Sertanópolis;
Leópolis;
São Sebastião da Amoreira;
Itambaracá;
Cambará;
Maripá.
BOX 2
Parnanguara vacinado relata a força da epidemia no município
O parnanguara Walace Domingues foi um dos primeiros a tomar a primeira dose da vacina. Ele é pintor e trabalha como voluntário em mutirões de limpeza na cidade. “Já peguei dengue duas vezes e quase morri. Estou muito contente com a oferta da vacina, que com certeza irá reduzir muito os casos da doença aqui no Litoral”, afirmou Walace. Além do amigo que morreu de dengue, o pai, a irmã e o cunhado de Domingues também contraíram a doença. “Paranaguá teve uma grande epidemia. Ainda bem que agora a expectativa para o próximo ano é melhor”, disse.
O diretor-presidente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina, Luiz Henrique Dividino, lembrou que o Porto foi um dos primeiros do Brasil a lançar campanha de combate a dengue. “Fizemos trabalho de conscientização nos sete municípios do Litoral, realizamos limpeza diária na área portuária e, além disso, levamos ações também para os tripulantes dos navios, inclusive com material em português e inglês”, explicou ele.
BOX 3
OMS recomenda a vacina para ampliar combate à doença
Em abril de 2016, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou o uso da vacina contra a dengue em países endêmicos, como é o caso do Brasil, reconhecendo a necessidade de ampliar estratégias de combate à doença. A divulgação da recomendação da OMS veio uma semana depois de o Governo do Paraná anunciar a decisão de adquirir as vacinas para utilização em cidades que enfrentam situação crítica para a dengue
Segundo a OMS, o impacto da dengue em termos de custo médico e dias de trabalho perdidos é significativo. Estudos apontam custo médio de US$ 1.500 por paciente e 18,9 dias de trabalho perdidos. "Tendo como base esse cálculo e o registro de mais de 55 mil casos neste período epidemiológico, o custo estimado da dengue no Paraná chega a mais de R$ 330 milhões por ano, o que nos dá respaldo para adotar essa importante estratégia de prevenção", explica Sezifredo Paz.
Em 1950, apenas nove países enfrentavam epidemias de dengue. Atualmente esse número chega a 100 países. O Brasil concentra 60% dos casos de dengue das Américas. No atual período epidemiológico, entre agosto de 2015 e julho de 2016, o Estado registrou mais de 55 mil casos da doença e 61 mortes em decorrência da dengue.
BOX 4
Vacina é pioneira e foi aprovada pela Anvisa
A Dengvaxia, vacina produzida pela empresa francesa Sanofi Pasteur é pioneira no mundo e foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em dezembro de 2015, depois de 20 anos de pesquisa e a comprovação de sua efetividade. É indicada para prevenção da dengue causada pelos sorotipos 1, 2, 3 e 4 para pessoas entre 9 e 45 anos, vivendo em áreas endêmicas.
Para garantir sua efetividades, são necessárias três doses, com 6 meses de intervalo entre elas. A primeira dose da vacina garante 70% de efetividade, mas é preciso tomar a segunda e a terceira doses para assegurar a resposta imunológica adequada. As principais contraindicações são para gestantes, mães que amamentam e imunodeprimidos.
A vacina é eficaz contra todos os tipos de dengue (4 sorotipos), oferece 93% de redução contra as formas graves da doença (aquelas que levam ao óbito, como a dengue hemorrágica) evita 8 a cada 10 hospitalizações, reduzindo os gastos com internações, e previne dois a cada três casos de dengue. Os resultados alcançados com a vacina estão em linha com a meta da Organização Mundial de Saúde (OMS) de reduzir a mortalidade por dengue em, pelo menos, 50% e a morbidade em, pelo menos, 25% até 2020.
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fonte redação http://www.aen.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=90131&tit=Richa-anuncia-vacinacao-contra-dengue-para-500-mil-pessoas-em-30-municipio
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